sábado, 10 de novembro de 2012

Continuo andando

Continuo andando


Continuo andando
Sem olhar pra trás
Com os olhos fixos no horizonte
Manchados de sangue
De tanto chorar

Tento não olhar para os lados
Para não perder a direção e os sentidos
Mas sempre esbarro na distração
A origem de tantas cicatrizes

Meus pés estão cansados
Mas prefiro andar descalça
Tiro as roupas
Para enfrentar o frio
Só assim me sinto livre

Avisto um lindo horizonte
Cheio de cores e luz
Posso quase tocá-lo e sentir o seu cheiro
Mas é o desejo de alcançá-lo que dele me aproxima

Antes dele, vejo longos caminhos
Que convergem e divergem

Meus olhos sangrentos se perdem
E me deparo com as escolhas
Descubro que elas podem me salvar ou destruir
E que delas não posso fugir

Quanto mais desejo,
Mais se afasta o horizonte
E maior é a minha ânsia por alcançá-lo
Choro sangue e abro feridas nos pés

Vejo-as cicatrizar
E algumas se abrem novamente
Busco força e inspiração
Mas encontro medo e solidão
Insisto na caminhada...

Conheço poucas pessoas
Passo por várias
Admiráveis, desprezíveis
Encantadoras, cruéis

Algumas deixam marcas inesquecíveis
Outras, somente passam

Os caminhos estão cada vez mais entrelaçados
Confundem-se como em um labirinto sem fim
Por vezes pareço dar voltas ou recuar
Em vez de seguir em frente e avançar

Minha respiração está ofegante
O cansaço toma conta do meu corpo
E o desânimo, do meu coração
Meu coração está imerso em um profundo vazio
Ocupado por farpas e espinhos

Os dias tornam-se curtos
E as noites, intermináveis
Minha visão do horizonte está desvanescendo
Ameaça desaparecer

Encontro desertos
E o mar não passa de uma ilusão
Encontro flores murchas
E árvores com folhas secas

Depois de muito caminhar,
Decido sentar-me, desistir
Entrego-me ao desespero
O desespero me consome pouco a pouco
E não há brisa que o alivie

Até que vejo uma luz
De um brilho interminável
Parece ter todas as cores e nenhuma
Espalha calor e energia

Desejo que, ao menos, um ínfimo feixe daquela luz
Invada meu corpo, já fraco e debilitado
A luz vem com a força de uma maré
Parece lavar-me com a mais pura água
Sinto-me renovada, leve e forte

Fecho os olhos,
desejando somente sentir a transformação
Que se faz em minha alma
Sinto uma força indescritível
Logo desejo abrir os olhos
E prossigo na caminhada...

Meus pés, embora cansados,
Parecem saber para onde me levam
Meus olhos, embora sangrentos,
Estão bem abertos e irradiam luz
Sinto-me feliz e calma

Agora fujo de todos os empecilhos à minha frente
Sinto que estou desvendando novos caminhos
Por onde ainda não havia passado

Sigo com a curiosidade de uma criança
E a determinação de uma mulher
Sinto-me forte como uma guerreira
Sensível com um anjo
E sábia como um monge

A luz está lá o tempo todo
Lá e por todos os lugares
Envolta e dentro de mim
Quanto mais a desejo,
Mais a tenho

Finalmente, encontrei o horizonte.

10/11/2012












Espaço Poético