Entrevista com Lucas de Lucca, autor e produtor editorial
Com apenas 20 anos, Lucas já possui 3 obras publicadas e trabalha como produtor editorial na Editora Flyve
- Qual é a sua idade?
Tenho
20 anos.
- O que te motivou a escrever?
Sempre
quis contar uma história, e já tinha tentado diversas formas. No final das
contas, o ócio acabou perdendo para a vontade de escrever e, depois disso, não
parei mais.
- Como autor e produtor editorial, como enxerga o
cenário literário no Brasil? O que precisa melhorar para que haja mais e
melhores oportunidades para novos escritores?
Como
autor ainda não publicado de forma tradicional (não procuro por isso desde
antes do O Corvo Negro, mas gostaria),
eu vejo que o mercado tem muita gente escrevendo, e muitos são bons. A oferta
de autores é grande e, em contrapartida, as editoras tradicionais buscam pelo
lucro. Com muitos autores, alguns se sobressaem por alcançar o público de forma
independente, ou às vezes por redes sociais, ou também por ter os contatos
certos. Isso não é nem positivo nem negativo porque, de fato, em um cenário
competitivo como é o brasileiro, é necessário dar um jeito de aparecer.
Já
entrando no tópico de autor independente ou publicado por uma editora paga, o
que é quase a mesma coisa, encontramos inúmeros casos de contratos absurdos,
autores passados para trás ou coisas parecidas. Muito por conta disso que eu
criei a Flyve, para ir contra esse movimento. Mas o autor independente
comumente busca a tradicional, está criando seu público ainda e precisa
aparecer.
Tanto
como autor quanto como produtor editorial, eu tenho apenas um conselho: investir.
Não investir tempo, porque isso todo mundo pode fazer; investir dinheiro mesmo.
Eu
não nasci em berço de ouro, muito pelo contrário. No meu primeiro emprego de
verdade, ainda morava com a minha mãe e passei meses sem fazer nada para mim. Guardei
tudo que podia e fui pagando serviços editoriais do O Corvo Negro. Investi em uma produção e consegui ganhar um
concurso que pagou o resto, e o livro saiu. Depois disso, investi em parceiros:
136 no total em 2017, o que me fez sair de 600 seguidores para 10 mil no mesmo
ano. E continuo fazendo o mesmo, investindo nos meus livros, em mim, nos
parceiros. E tenho retorno. No total foram impressos 3.500 livros com meu nome
e tenho pouco mais de quinhentos em estoque, a maioria do meu último lançamento,
A primeira Profecia, que não tem nem
seis meses.
As
oportunidades são limitadas, limitadas por público leitor, por editoras de
qualidade, por como o mercado consumidor está. O importante é que o autor não
dependa apenas de uma editora tradicional para publicar, que busque o seu
espaço e dê um jeito de investir. Se alcançar um público e conseguir sua luz,
quando a oportunidade aparecer, você vai ser uma opção para ocupar aquele lugar.
- O que considera essencial para se ter uma boa
escrita?
Eu
leio muito e escuto muito que para se escrever bem é necessário ler muito. Eu
concordo com isso. Para você ser tecnicamente bom, precisa praticar, ler bons
autores e ler livros técnicos da área. Mas se formos falar de contar boas
histórias, as coisas mudam um pouco. Ler pouco importa, consumir é o que
realmente faz a diferença. Óbvio que pode ser o consumo de um livro, até
agradeço se for. Mas para contar histórias melhores, cativantes e complexas,
você precisa ter um banco de referências e isso que conquista lendo,
assistindo, jogando, conversando e vivendo. O
Corvo Negro tem origem na série Game
of Thrones, nos livros (não no jogo) Assassins
Creed, e começou com uma forte influência de Skyrim. Três diferentes mídias, muito diferentes. Mas, em todas, as
histórias são fortes.
- Costuma adotar alguma técnica específica ao iniciar
a escrita de uma obra?
Eu
sempre tento seguir um roteiro. Conheço algumas técnicas como A Jornada do Herói, por exemplo, mas
junto tudo em um balaio para criar um roteiro que acho coerente. Com o roteiro
pronto, começo a escrever. Mas sempre sou surpreendido. Meus personagens tomam
conta da narrativa, por vezes eles têm ideias melhores que as minhas e deixo
que guiem a própria história. Pode-se dizer que é instinto, maluquice, mas eu
acredito que, em algum lugar, eles estão vivos. O roteiro mesmo assim é
importante, saber aonde quero chegar para não acabar com 700 páginas e uma
história sem final.
- O que a Trilogia
das Plumas: O Corvo Negro tem de especial? O que te inspirou a
escrever esta obra?
A Trilogia das Plumas é uma experiência
estranha. Nunca li algo parecido, nunca imaginei que seria diferente pelos
motivos que é. Escrevi o primeiro volume com 15 anos, tinha lido um total de
cinco ou seis livros na vida. Não tinha referência técnica, mas tinha muita
referência criativa. Acabei descobrindo tempos mais tarde que a trilogia não
segue o padrão. Não tem um vilão a ser combatido, alvo a ser abalado, relíquia
para destruir. É a história de uma pessoa comum que, por acaso ou não, se
tornara a peça mais importante de uma grande guerra. Mas, enquanto
lemos, esquecemos disso. Acompanhamos Ukel vivendo sua vida, crescendo como
bandido e ser humano. Esquecemos que, em algum momento, uma guerra vai
acontecer. E posso dizer que acontece com tamanha naturalidade que você pode
até se surpreender percebendo que já lê sobre essa guerra há muito tempo.
Eu
falei um pouco sobre minhas referências de O
Corvo Negro em uma pergunta anterior, mas o que me inspira a escrever é a
vontade de contar aquela história. Preciso continuar aquela vida, ela não pode
simplesmente ficar parada por dias, esperando minha vontade e tempo livre.
- Conte-nos um pouco sobre a Crônicas dos Três Deuses: Nova Rajux e A Primeira Profecia.
O Nova Rajux é um volume único, a história
acaba ali mesmo. Coloquei o Crônicas na frente porque tenho muitas
histórias para contar nesse universo. Vão ser livros menores, então por
isso já deixei um gancho para não ter que criar muitos títulos depois. Nova Rajux é uma história de RPG, uma
grande saga com várias aventuras, vividas por três personagens que não têm nada
em comum, vivendo um mundo de fantasia com referências a Tolkien, Duna, Zelda e
mais várias produções que não vou lembrar agora. Eu costumo dizer que, se você
gosta de RPG de mesa, vai gostar de Nova
Rajux. E se não gosta ou conhece o RPG, depois de Nova Rajux vai começar a gostar.
Já
o A primeira Profecia é bem
diferente. Ele conta a história de Lúcifer, com amnésia, chegando ao submundo e
tendo que sobreviver. É um livro que fala sobre o ser humano como animal, sobre
as relações sociais e, por fim, sobre muitas batalhas e perigos.
- A
respeito do seu projeto na Amazon, como interage com os seus leitores?
O
projeto História Contada por Muitos,
ou HCPM, para simplificar, é uma
ideia que veio do nada. Eu estava passando os stories e vi um ig
pequeno, deveria ter uns 300 seguidores, postando perguntas de RPG. Mas as
perguntas eram bem simples e não continuavam uma história. Na época eu estava
buscando algo novo. Depois que o Instagram mudou suas regras de distribuição,
eu perdi quase todo o meu alcance na plataforma, ou seja, meu engajamento foi para
vala. Isso mexe comigo até hoje. Então precisava de uma forma, uma novidade,
pra tentar dialogar com quem acompanhava o meu ig.
Foi
aí que eu tive a ideia de contar histórias, mas colocar o desenvolvimento da
narrativa na mão do público. Criei no Canva
um padrão que uso agora em tudo e postei a primeira frase com uma pergunta
super simples e que poderia não levar a nada: "Você vai pelo caminho das flores ou dos cogumelos". De
400 pessoas que viram, mais de 100 responderam. Então decidi que ia continuar
fazendo.
Em
algum momento, a história tem que terminar, no máximo duas semanas, mas pode ir
mais longe, dependendo. Depois que a história foi contada, eu não poderia
deixar ela só lá nos meus destaques, precisava fazer algo maior, mais
interessante. E foi assim que eu escrevi Lesmas
e Cogumelos, com o apoio de mais de uma centena de pessoas, e lancei na Amazon como e-book. Tem 7 páginas, é um e-conto (rs). Adorei a participação e
vou continuar fazendo, é algo que curti demais e sinto que o pessoal que
me segue também está achando bacana.
- O que acha do e-book?
Eu
gosto de ler e-books, isso é fácil de
responder. Mas eu ainda não entendo bem como funcionam as publicações e o
público de lá. Livros de negócios e hot
sempre estão no topo. Isso indica o quê, exatamente? Não sei. Mas eu sei que
não escrevo nem hot nem negócios,
mesmo que meus livros tenham bastante pimenta. Isso me coloca em desvantagem
como autor. No contraponto, a venda dos meus livros físicos vai muito bem,
então acho que os públicos, ou a forma de consumir, sejam diferentes. Eu acho
maravilhoso que todos possam publicar e que o cenário seja algo quase
democrático, ao menos por enquanto. Na teoria, qualquer autor pode publicar na Amazon, Google Livros ou Istore e
vender para caramba, a custo quase zero, e vendendo seu nome para possíveis
editoras tradicionais. Estou torcendo para que não haja a possibilidade de
impulsionar livros nas plataformas, porque aí essa democracia vai para o ralo,
como acontece hoje no Face e Insta.
Para
finalizar, esse ano vou publicar a nova edição do primeiro volume de Trilogia das Plumas. O nome vai mudar,
inclusive, e ele vai estar apenas em e-book.
Por isso aconselho quem quer ter um físico de O Corvo Negro se apressar, porque estão realmente acabando e não
pretendo imprimir mais.
-
Na sua opinião, como as redes sociais podem contribuir para o mercado
literário?
Essa
é difícil de responder. O mercado literário se aproveita das redes para se
divulgar, tanto autores quanto editoras. Cada um com os seus métodos. Como
comentei, para os novos autores, é imprescindível estar em grupos de Facebook de escritores, onde estou, mas
participo pouco, e nas outras redes sociais. Em quanto mais, melhor. Mas foque
em uma. Eu foco no Insta, lá é onde
invisto meu tempo e dinheiro. E também é de lá que vêm os meus leitores,
ou a maior parte deles. Só que histórias como a do André Vianco nunca mais
vão acontecer. André Vianco é um dos maiores autores nacionais de fantasia e
ele começou colocando seus livros nas livrarias.
A
capa era bonita, o livro era bom e as pessoas iam se falando e comprando ou por
curiosidade ou porque a dona da livraria já indicava. Hoje, quando conhecemos
um livro novo, a primeira coisa é pesquisar sobre ele. Vídeos de resenha,
resenhas escritas ou o Skoob. Se a
sua obra não aparece nesses lugares, você já tem muita chance de não vender
aquele exemplar. Faça um teste, entre sem conta em um computador aleatório e
pesquise o nome do seu livro no Google.
Se ele não preencher quase toda a primeira página, é hora de aparecer mais em
jornais e conseguir mais resenhas.
- Por fim, deixe uma mensagem inspiradora aos seus
leitores.
A
minha mensagem sempre será a mesma: crie. Criado, nós construímos um universo
maior e melhor, composto por milhões de ideias e feitos incríveis. Para quem
está esperando a continuação de O Corvo
Negro, o catarse sai esse ano. Se
todos que compraram o primeiro apoiarem o catarse, conseguiremos fazer o dobro de tiragem do original. E ele vai ser ainda mais
lindo do que o primeiro.
---
Biografia
Me chamo Lucas de Lucca, venho de Curitiba e moro atualmente no Rio Grande do Sul. Publiquei meu primeiro livro Trilogia das Plumas: O Corvo Negro em 2016, com 18 anos. Depois disso, publiquei Crônicas dos Três Deuses: Nova Rajux em 2017, e A Primeira Profecia esse ano, 2018, que é uma coautoria com Anderson Lopes. Os três livros foram selecionados em edições do Fundo Municipal de Cultura de Bento Gonçalves, um edital que seleciona projetos culturais e artísticos e os financia. Além das obras publicadas e físicas, iniciei no mês de maio de 2018 um projeto no Instagram para publicação de contos na Amazon, em formato e-book, onde uso a interação com os meus seguidores. Além das obras literárias, também sou palestrante sobre literatura fantástica, participando em quase 90 eventos ou palestras próprias. Ainda na área da literatura, sou produtor editorial da Editora Flyve, uma editora com conceito inovador no Brasil que publica autores de todas as áreas de forma personalizada, desde tiragens pequenas até grandes publicações no padrão Darkside, nossos preferidos.
Sinopse de Trilogia das Plumas: O Corvo Negro
Ukel mora na capital do reino de Gor em um mundo fantástico repleto de magia e armas mundanas em duelo, mas ele é apenas uma criança. Após as guerras arcanas, a cidade onde vive recebe refugiados do norte e a vida do garoto muda ao conhecer Merienir, uma elfa de cabelos prateados refugiada, e Farem, um órfão de Gor.
O Corvo Negro mostra a escalada de Ukel no mundo do crime até se tornar um corvo, um caçador de monstros e malfeitores.
Traição, sangue e malícia guiam o caminho do jovem em uma trilogia empolgante onde o protagonista não passa de um egoísta sem redenção.