quarta-feira, 13 de junho de 2018

Entrevista com Lucas de Lucca, autor e produtor editorial

Entrevista com Lucas de Lucca, autor e produtor editorial 

Com apenas 20 anos, Lucas já possui 3 obras publicadas e trabalha como produtor editorial na Editora Flyve


- Qual é a sua idade?
Tenho 20 anos.

- O que te motivou a escrever?
Sempre quis contar uma história, e já tinha tentado diversas formas. No final das contas, o ócio acabou perdendo para a vontade de escrever e, depois disso, não parei mais.

- Como autor e produtor editorial, como enxerga o cenário literário no Brasil? O que precisa melhorar para que haja mais e melhores oportunidades para novos escritores?
Como autor ainda não publicado de forma tradicional (não procuro por isso desde antes do O Corvo Negro, mas gostaria), eu vejo que o mercado tem muita gente escrevendo, e muitos são bons. A oferta de autores é grande e, em contrapartida, as editoras tradicionais buscam pelo lucro. Com muitos autores, alguns se sobressaem por alcançar o público de forma independente, ou às vezes por redes sociais, ou também por ter os contatos certos. Isso não é nem positivo nem negativo porque, de fato, em um cenário competitivo como é o brasileiro, é necessário dar um jeito de aparecer.
Já entrando no tópico de autor independente ou publicado por uma editora paga, o que é quase a mesma coisa, encontramos inúmeros casos de contratos absurdos, autores passados para trás ou coisas parecidas. Muito por conta disso que eu criei a Flyve, para ir contra esse movimento. Mas o autor independente comumente busca a tradicional, está criando seu público ainda e precisa aparecer.
Tanto como autor quanto como produtor editorial, eu tenho apenas um conselho: investir. Não investir tempo, porque isso todo mundo pode fazer; investir dinheiro mesmo.
Eu não nasci em berço de ouro, muito pelo contrário. No meu primeiro emprego de verdade, ainda morava com a minha mãe e passei meses sem fazer nada para mim. Guardei tudo que podia e fui pagando serviços editoriais do O Corvo Negro. Investi em uma produção e consegui ganhar um concurso que pagou o resto, e o livro saiu. Depois disso, investi em parceiros: 136 no total em 2017, o que me fez sair de 600 seguidores para 10 mil no mesmo ano. E continuo fazendo o mesmo, investindo nos meus livros, em mim, nos parceiros. E tenho retorno. No total foram impressos 3.500 livros com meu nome e tenho pouco mais de quinhentos em estoque, a maioria do meu último lançamento, A primeira Profecia, que não tem nem seis meses.
As oportunidades são limitadas, limitadas por público leitor, por editoras de qualidade, por como o mercado consumidor está. O importante é que o autor não dependa apenas de uma editora tradicional para publicar, que busque o seu espaço e dê um jeito de investir. Se alcançar um público e conseguir sua luz, quando a oportunidade aparecer, você vai ser uma opção para ocupar aquele lugar.

- O que considera essencial para se ter uma boa escrita?
Eu leio muito e escuto muito que para se escrever bem é necessário ler muito. Eu concordo com isso. Para você ser tecnicamente bom, precisa praticar, ler bons autores e ler livros técnicos da área. Mas se formos falar de contar boas histórias, as coisas mudam um pouco. Ler pouco importa, consumir é o que realmente faz a diferença. Óbvio que pode ser o consumo de um livro, até agradeço se for. Mas para contar histórias melhores, cativantes e complexas, você precisa ter um banco de referências e isso que conquista lendo, assistindo, jogando, conversando e vivendo. O Corvo Negro tem origem na série Game of Thrones, nos livros (não no jogo) Assassins Creed, e começou com uma forte influência de Skyrim. Três diferentes mídias, muito diferentes. Mas, em todas, as histórias são fortes.

- Costuma adotar alguma técnica específica ao iniciar a escrita de uma obra?
Eu sempre tento seguir um roteiro. Conheço algumas técnicas como A Jornada do Herói, por exemplo, mas junto tudo em um balaio para criar um roteiro que acho coerente. Com o roteiro pronto, começo a escrever. Mas sempre sou surpreendido. Meus personagens tomam conta da narrativa, por vezes eles têm ideias melhores que as minhas e deixo que guiem a própria história. Pode-se dizer que é instinto, maluquice, mas eu acredito que, em algum lugar, eles estão vivos. O roteiro mesmo assim é importante, saber aonde quero chegar para não acabar com 700 páginas e uma história sem final.

- O que a Trilogia das Plumas: O Corvo Negro tem de especial? O que te inspirou a escrever esta obra?
A Trilogia das Plumas é uma experiência estranha. Nunca li algo parecido, nunca imaginei que seria diferente pelos motivos que é. Escrevi o primeiro volume com 15 anos, tinha lido um total de cinco ou seis livros na vida. Não tinha referência técnica, mas tinha muita referência criativa. Acabei descobrindo tempos mais tarde que a trilogia não segue o padrão. Não tem um vilão a ser combatido, alvo a ser abalado, relíquia para destruir. É a história de uma pessoa comum que, por acaso ou não, se tornara a peça mais importante de uma grande guerra. Mas, enquanto lemos, esquecemos disso. Acompanhamos Ukel vivendo sua vida, crescendo como bandido e ser humano. Esquecemos que, em algum momento, uma guerra vai acontecer. E posso dizer que acontece com tamanha naturalidade que você pode até se surpreender percebendo que já lê sobre essa guerra há muito tempo.
Eu falei um pouco sobre minhas referências de O Corvo Negro em uma pergunta anterior, mas o que me inspira a escrever é a vontade de contar aquela história. Preciso continuar aquela vida, ela não pode simplesmente ficar parada por dias, esperando minha vontade e tempo livre.

- Conte-nos um pouco sobre a Crônicas dos Três Deuses: Nova Rajux e A Primeira Profecia.
O Nova Rajux é um volume único, a história acaba ali mesmo. Coloquei o Crônicas na frente porque tenho muitas histórias para contar nesse universo. Vão ser livros menores, então por isso já deixei um gancho para não ter que criar muitos títulos depois. Nova Rajux é uma história de RPG, uma grande saga com várias aventuras, vividas por três personagens que não têm nada em comum, vivendo um mundo de fantasia com referências a Tolkien, Duna, Zelda e mais várias produções que não vou lembrar agora. Eu costumo dizer que, se você gosta de RPG de mesa, vai gostar de Nova Rajux. E se não gosta ou conhece o RPG, depois de Nova Rajux vai começar a gostar.
Já o A primeira Profecia é bem diferente. Ele conta a história de Lúcifer, com amnésia, chegando ao submundo e tendo que sobreviver. É um livro que fala sobre o ser humano como animal, sobre as relações sociais e, por fim, sobre muitas batalhas e perigos.

- A respeito do seu projeto na Amazon, como interage com os seus leitores?
O projeto História Contada por Muitos, ou HCPM, para simplificar, é uma ideia que veio do nada. Eu estava passando os stories e vi um ig pequeno, deveria ter uns 300 seguidores, postando perguntas de RPG. Mas as perguntas eram bem simples e não continuavam uma história. Na época eu estava buscando algo novo. Depois que o Instagram mudou suas regras de distribuição, eu perdi quase todo o meu alcance na plataforma, ou seja, meu engajamento foi para vala. Isso mexe comigo até hoje. Então precisava de uma forma, uma novidade, pra tentar dialogar com quem acompanhava o meu ig.
Foi aí que eu tive a ideia de contar histórias, mas colocar o desenvolvimento da narrativa na mão do público. Criei no Canva um padrão que uso agora em tudo e postei a primeira frase com uma pergunta super simples e que poderia não levar a nada: "Você vai pelo caminho das flores ou dos cogumelos". De 400 pessoas que viram, mais de 100 responderam. Então decidi que ia continuar fazendo.
Em algum momento, a história tem que terminar, no máximo duas semanas, mas pode ir mais longe, dependendo. Depois que a história foi contada, eu não poderia deixar ela só lá nos meus destaques, precisava fazer algo maior, mais interessante. E foi assim que eu escrevi Lesmas e Cogumelos, com o apoio de mais de uma centena de pessoas, e lancei na Amazon como e-book. Tem 7 páginas, é um e-conto (rs). Adorei a participação e vou continuar fazendo, é algo que curti demais e sinto que o pessoal que me segue também está achando bacana.

- O que acha do e-book?
Eu gosto de ler e-books, isso é fácil de responder. Mas eu ainda não entendo bem como funcionam as publicações e o público de lá. Livros de negócios e hot sempre estão no topo. Isso indica o quê, exatamente? Não sei. Mas eu sei que não escrevo nem hot nem negócios, mesmo que meus livros tenham bastante pimenta. Isso me coloca em desvantagem como autor. No contraponto, a venda dos meus livros físicos vai muito bem, então acho que os públicos, ou a forma de consumir, sejam diferentes. Eu acho maravilhoso que todos possam publicar e que o cenário seja algo quase democrático, ao menos por enquanto. Na teoria, qualquer autor pode publicar na Amazon, Google Livros ou Istore e vender para caramba, a custo quase zero, e vendendo seu nome para possíveis editoras tradicionais. Estou torcendo para que não haja a possibilidade de impulsionar livros nas plataformas, porque aí essa democracia vai para o ralo, como acontece hoje no Face e Insta.
Para finalizar, esse ano vou publicar a nova edição do primeiro volume de Trilogia das Plumas. O nome vai mudar, inclusive, e ele vai estar apenas em e-book. Por isso aconselho quem quer ter um físico de O Corvo Negro se apressar, porque estão realmente acabando e não pretendo imprimir mais.

- Na sua opinião, como as redes sociais podem contribuir para o mercado literário?
Essa é difícil de responder. O mercado literário se aproveita das redes para se divulgar, tanto autores quanto editoras. Cada um com os seus métodos. Como comentei, para os novos autores, é imprescindível estar em grupos de Facebook de escritores, onde estou, mas participo pouco, e nas outras redes sociais. Em quanto mais, melhor. Mas foque em uma. Eu foco no Insta, lá é onde invisto meu tempo e dinheiro. E também é de lá que vêm os meus leitores, ou a maior parte deles. Só que histórias como a do André Vianco nunca mais vão acontecer. André Vianco é um dos maiores autores nacionais de fantasia e ele começou colocando seus livros nas livrarias.
A capa era bonita, o livro era bom e as pessoas iam se falando e comprando ou por curiosidade ou porque a dona da livraria já indicava. Hoje, quando conhecemos um livro novo, a primeira coisa é pesquisar sobre ele. Vídeos de resenha, resenhas escritas ou o Skoob. Se a sua obra não aparece nesses lugares, você já tem muita chance de não vender aquele exemplar. Faça um teste, entre sem conta em um computador aleatório e pesquise o nome do seu livro no Google. Se ele não preencher quase toda a primeira página, é hora de aparecer mais em jornais e conseguir mais resenhas.

- Por fim, deixe uma mensagem inspiradora aos seus leitores. 
A minha mensagem sempre será a mesma: crie. Criado, nós construímos um universo maior e melhor, composto por milhões de ideias e feitos incríveis. Para quem está esperando a continuação de O Corvo Negro, o catarse sai esse ano. Se todos que compraram o primeiro apoiarem o catarse, conseguiremos fazer o dobro de tiragem do original. E ele vai ser ainda mais lindo do que o primeiro.

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                                                                             Biografia

Me chamo Lucas de Lucca, venho de Curitiba e moro atualmente no Rio Grande do Sul. Publiquei meu primeiro livro Trilogia das Plumas: O Corvo Negro em 2016, com 18 anos. Depois disso, publiquei Crônicas dos Três Deuses: Nova Rajux em 2017, e A Primeira Profecia esse ano, 2018, que é uma coautoria com Anderson Lopes. Os três livros foram selecionados em edições do Fundo Municipal de Cultura de Bento Gonçalves, um edital que seleciona projetos culturais e artísticos e os financia. Além das obras publicadas e físicas, iniciei no mês de maio de 2018 um projeto no Instagram para publicação de contos na Amazon, em formato e-book, onde uso a interação com os meus seguidores. Além das obras literárias, também sou palestrante sobre literatura fantástica, participando em quase 90 eventos ou palestras próprias. Ainda na área da literatura, sou produtor editorial da Editora Flyve, uma editora com conceito inovador no Brasil que publica autores de todas as áreas de forma personalizada, desde tiragens pequenas até grandes publicações no padrão Darkside, nossos preferidos.

                                                  Sinopse de Trilogia das Plumas: O Corvo Negro

                Ukel mora na capital do reino de Gor em um mundo fantástico repleto de magia e armas mundanas em duelo, mas ele é apenas uma criança. Após as guerras arcanas, a cidade onde vive recebe refugiados do norte e a vida do garoto muda ao conhecer Merienir, uma elfa de cabelos prateados refugiada, e Farem, um órfão de Gor.
O Corvo Negro mostra a escalada de Ukel no mundo do crime até se tornar um corvo, um caçador de monstros e malfeitores.
Traição, sangue e malícia guiam o caminho do jovem em uma trilogia empolgante onde o protagonista não passa de um egoísta sem redenção.


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