Maurício Rosa de
Souza, 29 anos, natural do RS, é autor de dois romances: “Doce Sofia”, escrito
no final de 2015 e lançado no final do ano de 2017 pela Editora Multifoco/RJ; e
“Uma receita para a liberdade”, escrito em 2016, com lançamento previsto para março
deste ano. Concluiu sua graduação no curso de Física Licenciatura Plena, na
Universidade Federal de Santa Maria, em agosto de 2012. No primeiro semestre de
2013, ingressou no curso de pós-graduação (mestrado) em Geofísica do INPE,
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e, em 2014, meados do segundo
semestre, optou por não seguir mais a carreira científica. Foi quando adentrou
no mundo da literatura, cujo fascínio vem desde a adolescência. Apaixonado não
somente pela literatura, mas também pelas artes cinematográficas em geral,
Maurício muda o rumo da sua carreira profissional, e começa sua investida em um
universo completamente distinto. De estudante de exatas, torna-se escritor.
- Maurício, o
que te motivou para deixar a carreira científica e se dedicar à Literatura?
Bom,
primeiramente obrigado pela oportunidade, parabéns por seu trabalho de
divulgação e pela publicação do seu romance A Última Chance.
A maior
motivação para deixar a carreira científica foi o fato de que eu não estava
feliz. Eu encontrava-me numa fase bastante conturbada da minha vida, na qual,
eu nunca havia parado para perguntar a mim mesmo: “Então, Maurício, o que você
quer fazer realmente da sua vida?” Quando eu fiz esse pré-questionamento, eu
constatei que estava no lugar errado, fazendo o que não era de meu agrado e
desperdiçando um tempo precioso. Voltei para o RS sem perspectiva alguma, sem
ideia alguma de romance para escrever e o mais triste: visto como um derrotado.
As pessoas diziam: “Caramba, ele morava em SP, estudava num dos melhores
institutos de pesquisas do Brasil e agora está aqui em São Sepé/RS, novamente”.
Lógico que eu nunca liguei para isso, até pelo contrário, isso serviu de
combustível para eu dar a volta por cima e investir meu tempo naquilo que
realmente importava para mim, que é escrever.
- Quais
desafios precisou enfrentar para tal mudança?
Preconceito por
não concluir o mestrado, na época, inúmeros amigos de “carreira científica”
evaporaram, a minha ousadia virou um péssimo exemplo para o meio acadêmico. Nem
emprego eu conseguia arrumar porque tinha estudos demais. Sem dúvida alguma o
maior desafio foi fazer as pessoas respeitarem a minha decisão.
Outro grande desafio
foi encontrar uma história original. Abordar um assunto que provocasse
reflexão. Um livro que faria a pessoa, após finalizar a última página, ficar
olhando para o teto, ou para a parede e pensando sobre o que leu. Sem clichê,
eu queria algo que fosse profundo e foi isso que fez com que eu começasse a
escrever “Doce Sofia” quase um ano depois de ter voltado para o RS. Eu tive
inúmeras ideias, mas nenhuma era original. Enquanto essa ideia original não
vinha, eu escrevia contos, e “Doce Sofia” era mais um destes contos, só que de
repente ele já tinha 50 páginas. A ideia de abordar o tema de deficiência
física nasceu depois que eu ajudei um rapaz a sair de uma loja que não
tinha acesso para cadeirantes. A escada tinha cinco degraus e NINGUÉM da loja,
se manifestou para ajudá-lo. Voltando para casa eu estava decidido a falar
sobre o tema.
- Está feliz
com a carreira de escritor? O que mais te satisfaz como profissional da
escrita?
Muito feliz! Não
existe algo que me satisfaça tanto, escrever é a melhor parte do meu dia. Eu
não consigo não escrever. A grande satisfação é trabalhar sozinho, criar um
universo só meu. Desabafar através dos personagens, expressar ideias e criar um
mundo que existe, antes da publicação, só na minha cabeça. Outra grande
satisfação é saber que em algum canto do país, alguém está sentado lendo meu
livro. Não publiquei uma dissertação de mestrado, nem artigos científicos, mas
publiquei meu primeiro livro e logo vem o segundo e tem vários contos
publicados na internet também. A escrita me ajudou a dar a volta por cima.
- O que você
enxerga como vantajoso e promissor, e como desvantajoso e prejudicial no ramo
da Literatura? O que você acha que pode melhorar neste mercado para os
escritores nacionais? Como você vê este mercado?
A vantagem é os
meios de divulgação, sem dúvida alguma, um escritor atual tem muito mais recursos
de divulgação do que os nossos contemporâneos. Hoje em dia, tem blog, sites,
páginas de rede social, canais de vídeo e tudo mais que dão uma visibilidade
enorme para o seu trabalho, tudo isso em pouquíssimos minutos, segundos.
A desvantagem é
a literatura ter virado refeição para egos pobres de alma. Que nunca leram um
Moacyr Scliar, Gabriel García Márquez, Guimarães Rosa, Machado de Assis entre
outros. Para escrever algo bom, tem que ler algo bom. Isso serve para músicos,
se você quer ser um bom guitarrista, tem que saber tocar as músicas da banda
dos seus guitarristas preferidos. As editoras, não todas é claro, estão
publicando muita coisa ruim. O livro é ruim, mas se o autor pagar os R$ 10.000
que ela pediu (digo isso, pois recebi propostas desse padrão para mais) eles
colocam o livro até no programa do Faustão. Isso não é legal. Tem que ter
qualidade e elas têm que investir mais nos autores nacionais. Tem muita gente
boa, escrevendo coisas ótimas e que não conseguem espaço porque não tem
dinheiro.
As melhoras
poderiam vir com mais incentivos à leitura nas escolas, cursos de redação,
feiras de livros com preços mais acessíveis, o processo de seleção das editoras
ser mais rigoroso.
O mercado está
muito concorrido e é uma concorrência desleal, pois sai na frente o dinheiro e
não o talento. E isso é um reflexo que abrange vários ramos. A música está
assim, a literatura está assim, e o cinema nacional também. Outro ponto que
gostaria de tocar é o fato do pessoal escrever muita fantasia. O Brasil já está
cheio de monstros, principalmente na política, e o pessoal fica criando mais.
Tem tanto assunto interessante para ser abordado, nosso país está recheado de
temas sociais que renderiam ótimos romances.
- Como
admirador da Literatura e das artes cinematográficas, quais são seus gêneros
literários favoritos, para ler e para escrever; e que tipo de filmes mais gosta
de assistir? Você acredita no sucesso do cinema brasileiro?
Gosto de
romances em geral. Porém, evito livros de autoajuda e biografias. Adoro
romances completamente fictícios, ideias que saíram do autor e nada mais. “Cem
anos de Solidão” é o melhor livro, na minha opinião, de todos os tempos. O
universo de García Márquez é único, mesmo tendo como base a sua infância, ele
lapidou a sua própria história e narrou uma das histórias mais geniais de todos
os tempos. Outro livro que tenho como uma das maiores criações fictícias, é o
romance “O Exército de um Homem Só” do Moacyr Scliar. Procuro ler esse tipo de
literatura. Ideias que, mesmo sendo fictícias, de uma forma ou outra, estão
ligadas ao cotidiano do leitor. Adoro os filmes do Martin Scorsese, ele é um
dos poucos diretores que já passou por vários temas e sempre se saiu muito bem.
E acredito, sim, no cinema brasileiro. Porém, acho que vai demorar para
melhorar. É uma comédia atrás da outra, e os filmes mais legais nem entram em
cartaz. O cinema no Brasil virou refúgio de desesperados, é tanto problema que
o povo está cansado de chorar. Então, enfiam uma comédia atrás da outra.
- Como foi o
processo de elaboração e desenvolvimento para a criação dos seus dois romances:
“Doce Sofia” e “Uma receita para a Liberdade”? Quanto tempo levou para
finalizar cada um deles? Para você, foi mais difícil escrever e finalizar o seu
primeiro livro, ou a dificuldade foi a mesma para os dois? Se pudesse comparar,
o que poderia dizer sobre a produção de cada um deles?
Muita leitura
antes de começar a escrever. Muita revisão de capítulos e uma estratégia diária
de escrita. Duas horas por dia. Sem estipular números de páginas e muito menos
um prazo para finalizar o livro. Simplesmente duas horas diárias e pronto. Às
vezes, ficava duas horas só olhando para o texto, mas estava ali mexendo nele.
“Doce Sofia” eu levei sete meses para finalizar, muito devido à falta de experiência,
e “Uma receita para a Liberdade”, três meses, pois é uma história menor, apesar
de complexa e pesada. Mas eu já estava no embalo do primeiro romance, então
estava bem melhor articulado.
Foi difícil
finalizar os dois. Por que a história precisa ser contemplada do início ao fim.
Tem que começar bem, desenrolar bem e principalmente finalizar bem. O enredo
tem que ser linear, a pessoa tem que ser surpreendida. Como assim? Por exemplo,
ela começa a ler o livro e logo está na página 50 sem ao menos se dar conta
disso. Acredito que quanto mais tempo você levar para escrever um livro, melhor
ele ficará.
Os temas são bem
diferentes. Porém, “Uma Receita para a Liberdade” mexe muito com o meu
emocional. Trata de um tema mãe-filho, perdas em todos os sentidos. O pessoal
vai gostar, mas preparem-se que a história tem bastante espinho. “Doce Sofia” é
superação, é você acreditar que a vida pode ser reconstruída, sim. Seja qual
escolha você faça. Eu tirei uma lição do meu próprio livro. Já vendeu mais de
350 exemplares e até agora as críticas são só positivas. Procurei ser bem
versátil de um livro para o outro. E minha ideia é essa: versatilidade. Para
você ter uma ideia, meu terceiro livro já está pronto e fala sobre uma
prostituta telepata. Cada livro será um Maurício Rosa diferente.
- Você teve
algum tipo de incentivo e apoio para escrever os seus livros – não me refiro
somente ao sentido financeiro, mas principalmente ao sentido psicológico,
motivacional, e até mesmo de colegas do ramo com orientações, dicas e indicações,
por exemplo -, ou fez tudo sozinho? Como surgiu essa vontade dentro de você? O
que tinha em mente, inicialmente?
O maior
incentivo veio da minha família e de dois amigos. Eles se chamam: Guilherme
Grams e Miriele Amorim. Eles, desde que eu tomei a decisão de escrever em vez
de pesquisar, me incentivaram. Ela lia tudo que eu enviava por e-mail e
inclusive revisou “Doce Sofia”. Ele leu a versão final do livro e orientou que
eu investisse nisso. Que eu tinha “a mão” para a coisa. ´Foi o único amigo que
respeitou minha decisão e nunca contestou, até pelo contrário, louvou minha
escolha, mas sempre cobrou que eu não ficasse parado no tempo. Eu tinha que
fazer algo da minha vida.
Já, depois de
publicado e lançado, aí sim eu comecei a trabalhar sozinho. Contatando jornais,
blogues, youtubers, canais de TV, rádio e todas as mídias possíveis. O mais
legal é que sempre tive respostas e hoje tenho bastante registro de resenhas,
entrevistas, pois o pessoal acha muito interessante lançar um livro. Eu não culpo
a editora em não me ajudar com isso, pois eu ganhei um contrato de publicação e
não gasto nada com produção e tudo mais. Além disso, recebo direitos autoriais,
mas eu tenho que fazer minha parte, que é divulgar. Agora, para o segundo livro
(Uma receita para a Liberdade), vai ser muito mais fácil, pois tenho todos os
contatos salvos e mais alguns novos que descubro todo dia. O trabalho é
cansativo, mas é gratificante. Deu mais trabalho publicar e divulgar do que
escrever. Sempre tive em mente, desde o início, publicar a história. Mas ainda
assim é muito gratificante. Eu estou correndo atrás do meu sonho, eu tenho
um objetivo na minha vida. Eu não estou apenas respirando e vivendo um dia após
o outro. Eu quero que o dia seguinte seja diferente do anterior e, para isso,
preciso me movimentar.
- Conte-nos
um pouco sobre o enredo de “Doce Sofia” e de “Uma receita para a Liberdade”. O
que leitor pode esperar de cada um deles. Qual a mensagem que eles trazem?
“Doce Sofia”:
trata sobre uma jovem professora de Língua Portuguesa que tem uma vida toda
planejada. Planos, metas e sonhos. Ela está morando com seu futuro esposo e,
antes de casarem, ela propõe um teste de convívio de um ano. Porém, a Sofia,
sofre um acidente e fica paraplégica. Com isso, o teste fica mais complexo
ainda. Fora a deficiência, o estado julga, por ela ser deficiente, que Sofia
não pode dar aula sentada numa cadeira de rodas. Então, em meio a um caos
pessoal, ela sentada numa cadeira de rodas, vai fazer de tudo para reconstruir
sua vida conjugal e recuperar seu emprego. O livro tem duas partes e cada uma
delas possui uma “Sofia”. Pré-acidente, pós-acidente, virada de personalidade, adaptação ao mundo
dos deficientes, e a vida conjugal com Adam, seu namorado.
“Uma Receita
para a Liberdade”: trata da história da Anabela Drummond. Uma ex- chefe de
cozinha brilhante, premiada que, após engravidar e ser rejeitada pelo namorado
e também perder seu irmão, rebela-se contra tudo e todos. Fora isso, Anabela
tem que lidar com a mãe que tem obesidade mórbida. Tudo isso piora quando ela
pratica um crime e vai parar numa clínica de reabilitação para psicopatas. A
diretora dessa clínica conhece o trabalho dela como chefe de cozinha e propõe à
Anabela preparar o cardápio para um dos concursos mais famosos do mundo. A
diretora é também dona de um restaurante e amante de gastronomia. Em troca, a
pena de Anabela será reduzida e ela terá a chance de ver seu filho que ficou
sob os cuidados do serviço social. Porém, ela está numa clínica para “loucos” e
nada vai ser simples para ela, principalmente lidar com a diretora que é a mais
psicopata de todas.
- Você sempre
teve esse sonho de escrever e publicar um livro? Como você descreveria a
realização deste sonho?
Desde minha
adolescência, antes eu não me imaginava escrevendo. Eu queria ter uma banda de
rock. Depois que publiquei “Doce Sofia”, a imagem que tinham da minha pessoa,
“o doido que abandonou SP”, desapareceu. E esse não era meu propósito, eu só
queria publicar o livro e pronto. Foi consequência. Descrevo esse sonho como um
divisor de águas na minha vida. Existe um Maurício antes de “Sofia” e outro
completamente diferente após a publicação do livro. “Doce Sofia” me abriu
inúmeras portas, fiz vários novos amigos e me deu a certeza de que é realmente
isso que desejo para minha vida.
Fora isso, eu
trabalho como professor de Física e Matemática. Abandonei a pesquisa, mas não a
docência. Tenho meus alunos amados, que gostam de ler e me ajudam muito. E
estou para viver uma nova experiência na docência, graças ao livro também.
Jamais imaginei que atrás de um texto tão simples, mas elaborado com muito
amor, tinha tanta coisa boa por vir.
- Como
escritor, qual é a mensagem que você deixaria para os escritores nacionais que
estão começando sua carreira na Literatura e estão buscando um espaço neste
mercado?
Antes de
escrever, leia. Seja crítico e peça para seus amigos e colaboradores que sejam
críticos também. Não saia publicando qualquer coisa só porque tem condição de
arcar com os custos. O livro é algo que ficará para sempre. Você precisa saber
e caprichar no que estará escrito ali. Não se assuste com os “nãos” ou os
e-mails não respondidos. O grande segredo é a persistência. “Doce Sofia” levou
um ano e quatro meses para ser publicado. Tem editoras que até hoje não responderam
meus e-mails. Eu varava noites escrevendo, abri mão de festas, viagens, para me
dedicar a uma coisa que eu nem sabia se iria dar certo. Mas deu, pois o
pensamento negativo era efêmero. Eu sempre acreditei no que estava fazendo.
Não tenha pressa
para finalizar o livro, ele vai te dar sinais de que precisa de um fim. Escreva
de maneira natural. Se estiver bloqueado, beleza, vá ver um filme, ler um
livro, namorar. O bloqueio não dura para sempre, a não ser que você queira. Por
último, prepare-se. Após a publicação, vem divulgação, críticas, glórias,
decepções. Você precisa estar preparado. O meio artístico é muito complexo, por
isso eu sugiro muita dedicação no que você está fazendo. Até hoje eu ainda me
perco. Não escreva algo para ser passageiro na vida de uma pessoa. Escreva um
livro que ela colocará na estante e sempre ser tocada pela capa ou as anotações
que fez da leitura. Não escreva para inflar seu ego. Escreva para alimentar e
incentivar as esperanças e sonhos do seu leitor. Eu não escrevo para ganhar
dinheiro, ficar famoso, ganhar Jabuti, e muito menos ser amigo de atores
famosos. Escrevo por amor e para as pessoas que dedicam seu tempo a degustar
minhas histórias e amam, assim como eu, um bom livro.
Muito obrigado.
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